Lembram-se do tempo em que o mundo era uma coleção de pequenas torres de Terra com mitos? Cada povo com a sua língua, cada vila com o seu sotaque, cada família com os seus segredos ditos em voz baixa e em baixo relevo? Pois bem, esse tempo acabou. E acabou com um sotaque carregado de globalização e anúncios publicitários levadodos e trazidos por essa modernidade caregado de capitalismo. O inglês não bateu à porta. Não pediu licença, não trouxe flores, nem se preocupou em perguntar se podia entrar. Simplesmente instalou-se. Espreguiçou-se no sofá da nossa cultura e, com um ar de quem sempre esteve ali, começou a dar ordens. Primeiro, veio nos filmes, nos refrões das músicas, nas t-shirts de gosto duvidoso que diziam coisas como Live, Laugh, Love, afater. Depois, começou a infiltrar-se nos menus dos restaurantes, nas reuniões de trabalho e, num golpe final de humilhação, nos rótulos dos champôs e nas enbalagens de ajudas de humanitarias chegadas do primeiro mundo.
Hoje, quem nunca precisou de um manual de instruções e encontrou apenas um inglês básico e um português que parecia traduzido pelo Google de 2004, que atire a primeira pedra no charco. O inglês, senhores, tornou-se o passaporte para o mundo. Não há escapatória. Se quiser um bom emprego, tem de falar inglês. Se quiser viajar sem passar vergonhas num aeroporto, tem de falar inglês. Se quiser perceber metade dos memes da internet, adivinhe: também tem de falar inglês. Quem não fala, fica de fora, olhando para a festa global como um miúdo encostado ao vidro de uma loja de brinquedos, sabendo que nunca vai poder entrar.
Foi por isso que o Instituto do Arquivo Nacional de Cabo Verde decidiu meter mãos à obra. Durante três meses, os seus técnicos e colaboradores mergulharam num curso intensivo de inglês nível B1, com 60 horas de carga horária, sob a batuta do Professor Alcides Pereira Tavares, da Reverso, Línguas & Traduções. E porquê? Porque o mundo não espera. O mundo não faz legendas para quem não entende a língua que manda. Como dizia Wittgenstein, “os limites da minha língua significam os limites do meu mundo.” E ninguém quer um mundo pequenino. George Steiner, outro que sabia umas coisas sobre palavras, alertava que a linguagem define as nossas experiências e a maneira como vemos a realidade.
E a realidade, é esta: aprender inglês não é uma escolha estética. Não é como decidir entre um café curto ou uma meia de leite. É um imperativo. Um bilhete de entrada para um futuro onde ninguém quer ficar para trás. Então, o que fazer? Aprender. E aprender rápido. Porque o inglês já não é um hóspede – é o dono da casa.
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