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O burro chegou ao antigo Ponte de São Domingos com as narinas soltando gotas de água, como se o próprio ar estivesse impregnado de cansaço. Atrás dele, a neblina espessa engolia a paisagem, ocultando tudo o que existia além de alguns passos. Mas o som ofegante de uma respiração exausta revelava a presença de um homem sentado, cuja silhueta se fundia com a névoa, como uma sombra perdida no tempo. Ele apoiava-se na ponte de pedra, um testemunho das eras passadas, quando atravessar aquelas rochas era uma jornada vital para sobreviver e aventurar-se no interior da ilha de Santiago, enfrentando bruxas.

O rio, serpenteando lá em baixo no vale, sussurrava como um canto de despedida das chuvas que se demoraram muito além do esperado. Três meses de chuva eram aguardados, mas o céu, que recebeu muitas rezas naquele ano, ora generoso, ora implacável, estendeu sua cortina aquosa por seis longos meses. Valeu a pena ter benzido na passagem em frente a todas as igrejas das ilhas, comentavam todos os homens que permaneceram na terra.

A ilha, envolta num manto verde que se estendia até o horizonte, não conhecia outra cor. Parecia que as montanhas estavam vestidas com o véu do mistério, cada folha um segredo, cada gota de orvalho uma história não contada.

O tempo, naquela manhã, parecia escorrer lentamente, como se cada segundo fosse uma eternidade suspensa. O céu, carregado de nuvens densas como flocos de algodão, obscurecia a visão, e os homens lembravam-se de uma vida distante, nas terras que haviam deixado para trás. As viaturas, outrora rápidas nas estradas sinuosas, agora repousavam imóveis, como se o mundo estivesse em uma pausa contemplativa. E nesse cenário de espera, os homens reinventavam as suas vidas. As terras, antes abandonadas e sem promessa, agora floresciam, como se a própria terra tivesse decidido sonhar junto com eles, esticando-se em paus e enxadas.

Quando o meio-dia se aproximou e a neblina começou a se dissipar, o burro e o homem emergiram lentamente, como figuras esculpidas na bruma. O rosto do homem era estranho aos olhos dos habitantes de São Domingos, um enigma que ninguém podia decifrar. O burro, por sua vez, firmemente plantado na ponte, recusava-se a dar um passo adiante, como se aquele fosse o seu destino final, uma escolha feita pela própria alma.

— Anda, burro! — gritou o homem, sua voz tingida de impaciência, cortando o ar como um açoite.

O burro, contudo, permanecia imóvel, como se estivesse enraizado na pedra, desafiando as ordens com uma teimosia que transcendia o simples entendimento. O homem, já perdendo a paciência, levantava a voz num crescendo de frustração.

— Vamos, burro! Anda logo!

E, no entanto, o burro continuava firme, como se tivesse decidido que aquele era o lugar onde devia estar, ignorando as palavras impacientes do homem.

— Vou-te bater, seu burro, burro!

Nesse instante, o burro virou a cabeça, os olhos escuros fixando-se nos do homem, como se quisesse dizer algo, como se desafiasse o próprio tempo. E então, numa voz que parecia surgir das profundezas da terra, o burro falou.

— Por que tanta pressa, homem? Não vês que o caminho à frente é incerto? Talvez seja melhor parar e pensar no que realmente procuras.

O homem, surpreso, deu um passo para trás, como se não pudesse acreditar no que ouvia. Mas a voz do burro tinha um peso, uma gravidade que o obrigava a ouvir.

— O que eu procuro? Procuro sobreviver, trabalhar a terra, arrancar da vida o que ela me oferece. — respondeu o homem, ainda desconcertado.

— Trabalhar a terra é um ato de fé, homem. — disse o burro, suavemente. — Fé de que o solo dará frutos, de que as chuvas virão na hora certa. Mas e o que fazes quando a chuva não vem? Quando o solo te nega? A esperança de viver aqui não está apenas na terra, mas naquilo que cultivamos dentro de nós.

O homem ficou em silêncio, sentindo o peso das palavras do burro. Olhou para as montanhas ao longe, cobertas pelo manto verde, e pela primeira vez percebeu que o que fazia ali, naquele pedaço de mundo, era mais do que apenas sobreviver. Era uma luta contra as adversidades, sim, mas também uma declaração de amor à vida, à terra que o sustentava.

— Tens razão, burro. — disse ele, finalmente. — Sempre pensei que a terra era tudo, que bastava trabalhar duro para viver. Mas vejo agora que é preciso mais. É preciso esperança, amor... E isso eu tenho negligenciado.

— O amor ao próximo, homem, é como a chuva que esperamos. Ele alimenta a alma, enche os vazios que a terra não pode preencher. — o burro continuou. — Quando te dedicas à terra, também te dedicas aos que dela dependem. Somos todos parte de algo maior, e é isso que nos mantém firmes, mesmo quando o caminho é árduo.

— E tu, burro, o que sabes do amor? — perguntou o homem, meio brincando, mas com genuína curiosidade.

— Sei que o amor é uma força que nos une, homem. — respondeu o burro, com uma serenidade que desarmava. — Olha para nós, tu e eu. Somos diferentes na forma, mas iguais na essência. Ambos carregamos fardos, ambos procuramos o nosso lugar no mundo. E, no fundo, queremos o mesmo: encontrar um sentido, uma razão para seguir em frente.

O homem se aproximou do burro, acariciando-lhe o pescoço, sentindo a textura áspera dos pelos, o calor que emanava do animal. Havia uma verdade profunda nas palavras do burro, uma sabedoria antiga que ele não podia ignorar.

— Talvez sejamos mais parecidos do que eu pensava, burro. — admitiu o homem, com um sorriso cansado. — Ambos somos teimosos, ambos queremos algo mais do que apenas sobreviver. E talvez... talvez eu deva aprender contigo.

— A vida, homem, é um campo vasto e incerto. — disse o burro, com os olhos brilhando de compreensão. — Mas se caminharmos juntos, se partilharmos o fardo, a jornada torna-se mais leve. Não se trata apenas de trabalhar a terra, mas de cultivar o que está dentro de nós. E nisso, homem, somos iguais.

O homem assentiu, sentindo uma nova conexão, uma espécie de irmandade entre ele e o burro. E ali, na Ponte de São Domingos, sob o céu que começava a clarear, eles permaneceram por um momento, em silêncio, compreendendo que, às vezes, é preciso parar e ouvir as lições que o mundo, na sua simplicidade, tem para ensinar.

Quando o homem finalmente se preparou para seguir em frente, o burro, como que compreendendo a mudança que havia ocorrido, deu um passo adiante, pronto para continuar a jornada. Mas agora, não eram apenas homem e burro — eram companheiros, cada um refletindo no outro a esperança e o amor que a terra, em sua sabedoria, havia plantado neles.

E juntos, sob o céu de Cabo Verde, observaram passarinhos a cantar, e o homem retirou a sua luneta verde dos olhos do burro e tudo voltou ao normal, mas a lição de se tornar mais humano já tinha sido imprimida dentro dele.

 Mário Loff


 

Apresentamos aqui 50 personalidades mais influentes do ano 2022, naturais de Tarrafal ou que escolheram Tarrafal para viver e que atuam em diversas áreas, desde políticos, artistas, académicos, influenciadores digitais, desportistas, empreendedores e muito mais, que criam um impacto afirmativo e extraordinário na sociedade tarrafalense, Cabo Verde e na diáspora. As 50 personalidades de Tarrafal mais influentes de 2022. São pessoas de várias áreas que se destacaram durante o ano 2022 nas suas áreas e não só, são personalidades residentes no Tarrafal, outros na capital do país e alguns, na diáspora. Personalidades diferentes que têm Tarrafal em comum no coração, que se destacaram na promoção das ações como profissionais e orgulham a nossa cidade e os seus cidadãos, mas, também em outras áreas que dominam ou fazem as pessoas se destacarem. 







Fernando Elísio Freire, Ministro da Família 


José dos Reis, Presidente da Câmara Municipal do Tarrafal 


Celso Ribeiro, Deputado da Nação 


João Domingos, PCA de Cv.telecom

                                        

José Borges, Presidente IAHNCV




José Vaz, Administrador da Inforpress




Marlino Ferreira, Coordenador de IEFP


Amândio Lopes, Dirigentes Desportivo e Agente Cultural 


Janete Fortes, Professora e Dirigente Escolar


Zita Vieira, Professora Universitária, Educadora e Empresária 


Silvino Lopes Évora, Professor Universitário, Poeta, Escritor e Pesquisador


Neidy Rodrigues, Cientista, Professora Universitária e Ativista Social pela saúde 


Narde Sousa, Professor Universitário, Pesquisador e Escritor 


Maurícia Vaz, Empresária 

                                            

Iderlindo Santos, Ambientalista, Biólogo e Palestrante 


Marisa Silva,  Empresária e consultora de moda


Suzeth Montrond, Artista, Agricultora e Empreendedora


Adalgisa Varela, Atleta 


Nery Semedo, Gerente hoteleiro, Agente Desportivo e Treinador de Guarda-redes


Paullete Varela, Líder Comunitária e Ativista Social


Niu Fidalgo, Empresário, Imigrante e Entertainer Digital 


Nelsom Kristo, Empresário, Emigrante, Ativista, Social e Empreendedor



Mariza Correia, Artista e Ativista Cultural e Social


Mário Lúcio Sousa, Músico, Instrumentista, Escritor, Poeta, Pintor e Pensador


Mário Loff, Escritor, Dirigente associativo, Poeta, Ativista cultural e Pesquisador na área cultural


Maria Fernandes, Atleta multifacetada, Jurista


Márcia Dias, Poetisa e Estudante de Biomedicina


Loide Costa, Empresária e Empreendedora


Leunildo Tavares, Professor de Educação Física, Educador e preparador físico 


Kimane Ribeiro, Dançarino e Estudante 


José Luis Tavares, Poeta, Escritor, Agitador Cultural e Tradutor 



Joelson Leal, Empreendedor Digital, Designe e Empresário


   

Jacira da Conceição, Artesã Internacional e Pesquisadora 


Isabel Tavares, Atleta 



Gersom Soares, Gerente, Empresário e Empreendedor


Geraldino Correia, Informático e Professor


Evy Furtado, Estudante de Medicina e Poetisa


Rine Neves, Agente Policial e Empresária


Emanuel Tavares, Empreendedor, Empresário e Imigrante


Elisandro Tavares, Ativista Social, Empreendedor e Divulgador Digital, 


Edna Pina Bala, Empreendedora de Inovação e Empresária 


Carlos Alberto Sousa, Músico, Poeta, Compositor e Criador


Carlos Ferreira, Professor e Pesquisador 


Budo Tavares, Artista Plástico e Músico Instrumentista


Anilton Levy, Ator, Youtuber, Poeta e Editor 


Africano Varela, Empresário, Ativista Social e Imigrante


Jose Cabral, Padre, Professor Universitário e Escritor



Adilsom Santos, Ativista social e Cultural, Dirigente Associativo e Estudante 

 
Edny Duarte, Atual Miss Tarrafal e modelo


Xaioioi, Sapateiro e Entertainer Digital








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