Halloween party ideas 2015

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O que é um meio homem? Andei por vários anos a pensar que um homem só se torna homem quando as suas necessidades, desejos e sonhos fossem corporalizados, isso resistiu em mim até entender que há homens que não tem ambições, melhor, têm sonhos desajeitados, estragados. Sonhos estúpidos e destruídos, creio que isso nem existe nos compêndios linguísticos.
Nas estações domingueiras, tenho repetido o habito de sair da minha rotina habitual, visito os botequins, de onde as minhas grandes lembranças tiveram corpo e espaço, lugar de repousar. Confesso que é um lugar de entusiasmo, diversão que se quebra, corpo e a alma. Grande homem que conheci na minha infância vi completamente diminuído, acabado, envergonhado perante todas as palavras que trocamos. Às vezes, é importante sair da ilha para poder vê-la melhor, citando o amigo Saramago.
Butikin visitado não é um mau lugar de se estar, só há um mal, é que quem não tem dinheiro se emborracha (tendo em conta os grogues feitos em tempo record) muito mais rápido do que os que tem a disponibilidade financeira. Este sim é a forma de se tornar um homem meio homem, quase meio nada, aguentado pela roupa que dança com a passagem do vento no seu próprio corpo que movimenta com a força do Vento.
Vem o senhor Bitorino, magro, cheiroso de aguardente, até a mais fina ponta de cabelo e desgasta em mil pedaços que insiste em não espalhar pelo chão de amargura. Ainda que eu tenha duvidado da capacidade de raciocínio de um meio homem e, por sua boca tem caído a maioria dos quilolitros das coisas lentas, como o derramamento de vida, a própria morte tem andado de forma lenta no seu corpo resumido. Tudo nele anda de forma lenta e incita o andamento das cosias. As más coisas, os maus hábitos e vícios.
Há mais de dês anos que andamos a sentenciar a saída do espírito do corpo do homem mais delgado de Colhe Bicho o pescador obeso por dentro, quase todos os que tinham afirmado a pés juntos a morte do homem que eu conhecera já faleceram, parece que incitar a morte do meio homem é subscrever a própria morte e invocar e em contra mão a imortalidade do homem resumido em carne e espírito. As vezes chamo ele de Lú de Cesário ou Lulu. Ultimamente anda a dar o professor Nelson sugestões sobre a morte.
 De todos os que já morreram, estavam à espera da morte do meio homem, e curiosamente a autopsia afirmara que a causa da morte deles foi dor de dente, salto mal ensaiado, cerveja consumida em vez de grogue, sumo natural em vez de cerveja, andar em ritmo acelerado, falta de educação, falta de bom dia... nenhuma pessoa morreu de doença pestilenta ou de coisa morrida. O meio homem há muito foi morto em muitos momentos, ele ainda continua meio homem, melhor, meio grande homem, meio grande não sei lá mais o quê.
Nos natais tenho feito o mesmo ritual dos últimos tempos. Visita-los. Ao iniciarmos o dialogo, ele insiste em examinar um dos nossos amigos em comum. mais um meio homem. que se tornou quase apagado. Diz o meio homem sobre a morte e as familiaridades que tem tido com ela. A morte.
— Quando a morte entra num homem, vejo e sinto as suas pegadas. Essas palavras foram ditas por ele, melhor, um meio homem. Magro. Não magro de se pensar na magreza, é magro até que os ossos se pronunciam ao contrário, nunca termina uma frase, nem mesmo as palavras. Quando esta a tossir, pega uma parte da barriga e aperta para dentro. Mãos secas, cadavéricas assim como o resto do corpo, forçosamente inspira e respira.
Há mais de quinze anos adquiriu o vício de gritar a palavra “ennnnn…” Por sinceros cinco minutos. Consome muita canjica degenerada, umas palmadas bem grosas que lhe passa pelos ouvidos, o cheiro forte que perpassa entre os bêbados que não têm assistidos o ritual das escovas e pasta de Colgate e os próprios dentes têm manifestado em cores amarelas iguais à camisola do partido que o fulano sentado no fundo, tem vestido e, por cima da sua cabeça o cartaz dos dois fulanos que daqui apouco vão começar a mesma ladainha.
— Vota em mim, porque daqui a pouco a estrada, ou alguma obra desbloqueada la pelos lados da cochinchina não vai poder ser inaugurada nas festividades de Santo Amaro e as coisas perigosas têm nome do perigo.
O meio homem levanta às cinco da manhã e, fala meia hora, sozinho com pessoas a sua volta. Muitas vezes ele diz que são as suas entidades ocultas e, outras vezes dizem que são os seus mortos. Bebe para não continuar a falar com o invisível, o grogue tem essa serventia, aumentar a queixada, desnutrir os rins, plantar vergonha em casa e, tornar os homens grandes surripiado de toda a carne, entregando só a magreza e o corpo estica até que se ajusta a um caixão muito bem bonito e por fim, vêm os discursos de que tudo poderia ser evitada.
O meio homem, diz que conhece a postura da morte e elas vêm ter com ele a, cinco da manhã, e o nosso amigo não vai passar as festividades de santo amaro, afirma ele, mas porquê acha isso, meu caro amigo? Pergunto eu, curioso para saber do segredo do Homem sobre a fórmula da morte quando chega num homem.
Nesses dias morreram pessoas tão jovens e dói, dói muito, porque ainda tinham um caminho longo pela frente. Quem sabe sobre o jogo que acaba sempre, a vida e um jogo que a morte derrota sempre e só ele ganha.
Fez se um silêncio na sala, entra mais um dos nossos amigos, e alguém chama o homem que acabou de entrar pelo nome.
— Entra professor, entra.
Ele entra e dirige para mim. Cumprimenta-me, admirado, sigo-lhe a admirar-lhe, de entre aquelas palavras magicas verdadeiras, ele já me tinha dado uns quatro apertos de mão sentindo-me muito pequeno diante daquele homem quebrado pelo fumo, pelo álcool e fala crioulo misturado com inglês. Pelo menos, ficou algo de se admirar. Ele já é um homem experimentado, silencioso, e despregado de ilusões da vida. Ele tem sido um homem que se quebra e tem gostado, pelo menos ele deixa aquilo transparecer. Volto a cara para o meio homem que ia sair da sala e pergunto se não iria revelar a pegada da morte, que língua ela tem?
— Vê para o Mário sentado no canto da varanda, olha nos olhos dele, ele não vai passar deste dia. A morte já esta no corpo dele a recolher as insistências, é que há coisas do corpo que não desabrocham com facilidade, por isso demora.
— Mas, diga-me, qual é a pegada da morte?
— Então não viste ainda?
— Diz ou não?
— Ela ficou triste! A morte quando entra tira a alegria de um homem. Imagina um homem de família como ele sem a sua alegria?
— Um homem sem a sua alegria o que é? Pensei por mim, por que ele um meio homem faz-me pensar sobre isso? Um homem sem alegria. Como pode um homem sem alegria viver? Criar, amar e governar um povo?
O meio homem, sem me perceber que já tinha abandonado o botequim onde nos encontrava desde as duas da tarde, andava devagar, ainda tem a mesma ferida dos últimos trinta anos e a mesmo rabo de cavalo que carrega na mão por todos os lugares para espantar as moscas que insistem em cair na ferida que se eterniza na sua perna como a morte que se instalou no mundo desde a sua criação. E ele a alguma distância grita.
-Taaaaaaaa.
O outro rapaz lá do fundo da sala diz.
-O porá, desde as onze da manha que estava a espera que tu terminasses a palavra, entra. A longa distância ele atravessou a rua Palmira e desapareceu das nossas vistas.

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