Halloween party ideas 2015

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O dia corria com o crepúsculo para fora da madrugada e vinha aos poucos confirmar o domingo, depois da magia da missa do sábado e a caída das flores na praça. Saí de madrugada para observar a cidade ao amanhecer, na sua maioria ao desabrochar para o dia ela é a mulher virgem e, em poucas vezes ela é mulher madura que habita num lugar que já dura desde 1533, dali nasceu tarrafi, planta linda que dá as suas específicas flores e, dali pariu o nome da cidade. Tarrafal. Em volta da praça, está algumas senhoras a praticarem
 os seus footing da manhã, viaturas que fazem fretes para a cidade da praia que iniciam o dia ainda antes das quatro da manhã, o cuidador das plantas da praça a limpar os olhos de sono, o outro ajudante a desamarrar o tubo, o Djedji a caminhar desde a subida da monte-iria até a loja do Tim que abre às oito, passa as primeiras viaturas que vem abastecer o mercado com pães e bananas. Encontro-me no meio da avenida que liga centro da cidade à monte-iria e ao interior, o crepúsculo é fingidor e o frio queixa-me por dentro e por vezes com dor. Aguento e observo o edifício no fundo da avenida e é a casa civil do Presidente da Câmara e pergunto.


-o que faz um presidente em plena madrugada enquanto a cidade dorme? 

Os yaces, continuam a ensaiar a ida para a cidade capital, passa um grupo de mulheres acompanhadas pelo um dos professores de educação física mais antigo, mais fino e sério da deste burgo ao norte da ilha grande, o Senhor Djosa, vê-se pelo seu estilo o cheiro da sua seriedade. Desde porta da sede de município, observo os últimos pescadores a curvarem o outro lado da rua que dá acesso à rua da Igreja dos Nazarenos em direção ao cais velho, para faina e para pescaria da vida e captura da paciência, na volta à terra trazem testemunhas de que vale a pena o trabalho antes do fim das madrugadas. 

Desde a fundação da cidade, já passaram muitas embarcações e, antigamente o porto velho serviu para receber os ex. soldados que tinham participado na Segunda Guerra Mundial, é estranho saber que numa cidade fechada tenha chegado até ali barcos pertencentes à Inglaterra na Segunda Guerra Mundial, esse fato justifica a expressão "Guerra Mundial" esticado até Tarrafal. Enquanto devaneava nas minhas imaginações, oiço uma voz, fica-me a ideia de ter sido a Linda Julieta, mas, não considerei. 

Na noite de sábado, ela tinha sido transformada em flores e, naquela hora todas as flores da praça estavam fechadas, murchas e nenhum barulho se fazia a não ser as pessoas que passavam a fugir do frio em correria e os pescadores com cara fechada depois de despedirem das suas famílias para mais uma lide no alto mar.
Decide deixar a porta da Câmara Municipal para ficar mais perto de uma das flores mais raras na praça, o som da voz pareceu-me ainda mais forte e, não via ninguém, enquanto me aproximava da flor, mais me vinha a certeza de que era ela, sem a cara, sem aquele olhar terrivelmente possante que derrota um homem. As vezes, é preciso ser mulher para derrotar um homem. Derrotar um homem é fazer com que aquele ser arranque toda a desumanidade e se encontre o homem perdido dentro dele as vezes com cara de vários géneros, as vezes com cara de grande ser humano.
Lamento tanto por não ti, ver neste momento, desta vez foste embora, pensei isso, de repente sinto um estalo por dentro e, doí-me com barulho como se Sentimento bem estruturado fossem ‘tsunamis’ com vidas que começam na gente e terminam no mar e, depois nos olhos. Aposto que por uns minutos nesta situação choravam a sua ausência, dizia-me ele e continuava, chorei pela tua, quando dei pela sua falta. As lágrimas naquele início de dia poderia ser perfeitamente um “tsunami” e com nome, lembro essas palavras que muitas vezes ela me disse, e tinham nome certo. Linda Julieta.

Andei sem ver para trás ainda, sem voltar para ver os passos no chão Abandonado dentro da praça quase a confrontar com igreja, dia já se fazia mais clara e podia se ver todas as corres das casas, como se elas fossem os olhos que desaconselham um homem a não se sentir o amor, nem ódio, nem saudade, nem ser dilacerado por sentimento nenhum, e de repente estatelei-me em frente ao tanque da praça e, o contacto do basalto com os meus joelhos encheram-me de dor e escoriações, o que mais doía era as escoriações no coração, estava-me a escorregar mesmo parado e, caído feito uma china quando abusa da língua Cabo-verdiana. 

Estático, sem poder andar e mexer, tinha toda a força do mundo naquele momento, basta que a minha certeza fosse eternamente a outra parte certeza de nome Linda Julieta, basta que os olhos dela sejam o farol antes que as luzes da cidade apaguem, mesmo que os dias vivem de eclipse do surrealismo de gata em dias de uma boa zurrapa na boca de algum poeta bêbado. 
Podia levantar a cabeça para ver o sino da igreja que acabara de tocar, o primeiro sino despertou os pombos, o segundo fez com que eles voassem para fora do ninho constante no teto da igreja, o terceiro já era as sete da manhã, o quarto sino todas as flores da praça abriram. 

Estou preso e não consigo sair dali, sem mexer, com a voz da Julieta na cabeça, aquele momento não trocaria por nada, preferia estar ali completamente preso a corrente da sua voz, do seu nome e tudo o que o amor pode prender sem me matar, queria estar ali preso, basta que ela entrasse novamente pela porta de algum lugar que não sei a onde, mas que fosse possível estar diante dos nossos olhos. Só mais uma vez e, que desta vez não seja ela a flor, mas, que seja só Linda Julieta a, mulher flor sem se transformar nela e, que ela seja a mulher, uma super flor. 

Alguém bate-me na cabeça, empurra-me o corpo e, de repente  algumas gotas de agua entre-me pelo ouvido e, desta vez ouço melhor e mais claro a voz.

— acorda Joselito, acorda. 

Afinal estava a sonhar e, ali ao meu lado estava a Linda Julieta assustada, julgando que jamais iria acordar. 
-Sabes que sonhei que transformaste em flores e que o senhor padre era Cristo que voltou para cruz e, se originou a paixão de Cristo em Tarrafal? Contei um pouco os sonhos.
Depois de dizer essas palavras para ela, levantei-me, e ela mantive espantada e sorridente ao mesmo tempo.
— eu? Tudo isso sonhaste? Penso que não tenho esse poder. Ela levantou-se para sair. Peguei a sua mão. Observou-me com o mesmo estilo de olhar, como se a beleza daquilo fosse um sonho que se renova em cada manhã, aquilo dominou-me, encantou-me, dilacerou-me, comeu-me o amor por fim tinha que declarar todo o meu sentimento com propósito e sem orgulho e impostos vergonhosos.

Então preparei-me todas as palavras chatas, péssimas, românticas e as outras tantas que são só chouriços e mandei tudo para ela e, de disse.
— a partir de hoje estamos declarados. 

Ela observou-me espantada e fez-me um carinho na testa analisando se não tinha sofrido demais com os sonhos no sono. Estava decido a declarar com uma única palavra e disse.
— Declarado!



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