De repente, eis que surge, como um cometa político que já viu melhores dias, uma figura que passou tanto tempo na política que agora jura que não quer nada com isso. Nega o jogo, mas joga. Diz que não quer o poder, mas não larga o microfone. O mais curioso? Atrai seguidores. Ou melhor, crias. Crias essas que, em vez de ideias, carregam fósforos nas mãos, gases tóxicos na boca e veneno na língua. Espalham insultos com a destreza de um propagandista soviético e, entre uma fake news e um surto revolucionário, dedicam-se à sua principal missão: denegrir tudo e todos.
E no meio deste circo de guerrilha verbal, lá está ele, o Grande Líder Desiludido, olhando para a sua própria fotografia como se fosse um retrato renascentista. "Mas que belo democrata eu sou", pensa ele, enquanto assiste ao caos que semeou.
O bairro, coitado, acha tudo isto "fixe". Afinal, a ajuda, diária, quinzenas e até mensal chega na certa, e manter a selvajaria dá jeito a quem quer transformar a política num reality show de gritaria ideológica. O problema é que agora, neste país, já se compram até pessoas. Não que seja novidade, mas agora há um requinte teórico por trás. Já há homens com alta escola, diplomas e provas dadas a defender essa nova pedagogia do disparate. Para quê debater ideias, propor soluções ou apresentar um plano de governo quando se pode simplesmente gritar mais alto? A regra é simples: problemas difíceis, respostas ridiculamente simples.
E assim segue Cabo Verde, num dilema filosófico digno de um manual de dialética marxista: que esquerda é esta? Será uma esquerda democrática? Será uma extrema-esquerda reaquecida? Ou será apenas um grupo de revolucionários gourmet que, entre uma reunião secreta e outra, apreciam um bom vinho francês pago com dinheiro burguês?
O grande problema é que ninguém sabe. Ou melhor, quem sabe não diz, e quem diz não sabe. O que se sabe é que a esquerda local tem um talento extraordinário para o disfarce. Aparece como democrática, mas age como se fosse uma reencarnação tropical do KGB. Faz cara de moderada, distribui sorrisos, fala de liberdade, mas quando chega ao poder, legisla com cheiro a mofo soviético.
E se há algo que os camaradas dominam, é a arte do engodo. Primeiro, usam propaganda. Não a propaganda tradicional, mas a fina arte de repetir uma mentira tantas vezes que até o autor começa a acreditar nela. Se Stalin tivesse Instagram e facebook, faria um curso com eles. Criam factos, reescrevem a história, fazem-se de vítimas. E se ninguém os persegue, tratam de perseguir-se uns aos outros só para dizer que são mártires da liberdade. Bem, o que não se percebe nesses dias, é que a maioria deles defende um cabralismo ferrenho e andam a maltratar o outro herói, o Comandante PP, tal fogo e veneno na boca e língua.
Depois, infiltram-se. Em partidos, sindicatos, universidades e, se calhar, até nos corais do oceano e folhas verdes e amarelas da praça de mangue. Não querem apenas vencer eleições, querem capturar o Estado, mas colocando as instituições em cheque. A tática é velha, mas eficaz: fingir que se é democrata até ser tarde demais para o eleitor perceber a diferença entre um boletim de voto e um decreto revolucionário.
E como se não bastasse, há a sabotagem. Se não podem controlar, destroem. Se não podem destruir, difamam. A economia não cresce? Culpa do capitalismo. O turismo está fraco? Culpa dos empresários mal-intencionados. O governo não funciona? Culpa da direita (mesmo que a direita tenha menos votos do que um candidato a delegado de turma). Se tropeçarem numa pedra, provavelmente foi colocada lá pelo FMI e se você tiver uma calça de marca, mesmo os asiáticos de baixa renda, mesmo que tenha gostos requintados de alta cultura, com elevada crença serão chamados de kopu leti e classe media buralda da capital.
Mas não nos iludamos. O objetivo da esquerda cabo-verdiana não é governar. Governar é chato. O objetivo é controlar. Controlar tudo, desde o discurso até as redes sociais, desde os manuais escolares até os memes políticos. Afinal, a revolução não pode ser interrompida por factos inconvenientes. E, como qualquer boa organização revolucionária, há códigos e segredos. Entre si, chamam-se de "camaradas", reúnem-se em "células", comunicam por "pontos" e seguem "linhas vermelhas". Parece um thriller de espionagem da Guerra Fria, mas não, é apenas a política cabo-verdiana em 2024-2026.
O mais curioso? Esta história já aconteceu antes. Na União Soviética, chamava-se Stalinismo. Na China, Maoísmo. Em Cuba, Castrismo. Na Venezuela, Chavismo. Em Cabo Verde, podemos chamar-lhe "O Grande Golpe da kachupada".
O truque final? A “cancela e difama". Quem ousa apontar estas evidências é imediatamente rotulado de fascista, traidor, kontra koitadu, ka kre dexa prisidenti trabaia ou – pior ainda – neoliberal. Em Cabo Verde, ser chamado de neoliberal é pior do que ser apanhado a ouvir esses MC´S da má qualidade. É uma ofensa de honra dos esquerdinas, um assassinato do carater. E o que nos resta, pobres mortais que apenas queríamos um país livre e próspero? Observar, rir e esperar. Porque, como todas as farsas políticas, esta também terá um fim. E quando tudo passar, contaremos aos nossos netos esta história e diremos:
"Sim, meus filhos e netos, houve um tempo em que a extrema esquerda tentou enganar Cabo Verde...mas esqueceram-se que nós gostamos mais de cachupa do que a revolução."
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