Feitiço da dama de salto alto, um conto de Mário Loff
Se me dissessem sem que eu tenha visto aquele momento não acreditaria de modo algum, mas vou contar. Tudo aconteceu em trinta minutos, na rua do barbeiro. Na parte esquerda da passadeira é entre-metida entre basaltos bem trabalhados e pedras ainda em estado bruto e já gastas com o tempo e tanto uso.
Na parte direita tem intermitência de partes cimentada por argamassas e basaltos. Em ambos os lados da passadeira estão repletas de acácias americanas que no inverno estão cheias de folhas vermelhas, mas naquele momento todas elas se apresentavam completamente nu.
Na última casa que dá acesso à próxima rua que passa em frente da igreja, estava a casa do barbeiro que naquela tarde teve muitas perdas devido à avaliação da maquina mais antiga e aquela que nunca tinha estragado, a frente do edifício passarinhas estavam penduradas umas ao lado das outras fazendo uma fila de mais de dês metros em cima do fio de luz elétrica que ligava a barbearia e as outras casas de uma ponta a outra, na oficina ao lado o homem sujo de oleio queimado insistia com um fogão a bomba que não acendia a petróleo o homem enchia e voltava a secar sem ser queimada pelo lume, era uma quebra cabeça terrível que se formava naquela tarde. Para completar o sino da igreja não tocou as quatro horas da tarde e nem as quatro e meia parecia pouco provável, todos os trabalhadores da rua estavam chateados com o sino e a hora que insistia em não chegar pelo sino da igreja, estafados e quase mortos de tanto trabalharem, na barbearia, na taberna do senhor guaxi, puseram-se a deitar no parapeito da casa e de cara para o chão e peitos escondidos nos soalhos abandonados na rua.
O senhor pinikeiro ainda que tenha aulas de motivação não conseguiu motivar os seus funcionários o suficiente para continuar no ofício. Levantou a cara para observar algo estranho se passava naquela tarde, justamente nos 20 minutos depois das quatro da tarde. Barbearia parada e o senhor barbeiro chateado, oficina aberta e o fogão que não trabalha apesar de aparentemente estar pronto, as árvores sem folhas e as outras que ainda tinham folhas e flores estavam estáticas, e todos os trabalhadores deitados, cansados sem ânimo ou a sentirem que o patrão tinha pena deles, e o sino que não vinha a não ser aqueles passarinhos colecionando um cenário colorido. Quando se espera a receção de uma rainha se enfeita as ruas daquela forma, indagava o patrão que tinha os seus trabalhadores estafados de tanto encherem betão.
A porta abriu, os papeis de cimento abandonado subiram no tempo e limparam toda a rua, tudo o que acabara de entrar pela rua da barbearia afora, era o sinal do vento que se fazia e impura as coisas para fora, o mesmo vento levava consigo uma fragrância que acabara de sair do corpo de uma mulher e, quando essa fragrância tocava nas coisas tudo se consertava.
Pela primeira vez nos últimos vinte minutos.
Os trabalhadores deitados no chão e nos soalhos abandonados saltitavam em modo câmara lenta, como se fosse o som lento do coração. Descia o degrau da escada, cada toque que o tacão dava nos degraus fugindo cada vez mais para o chão plano em direção ao portão da rua de barbearia, também o coração dos trabalhadores já estafados respondiam para o espanto dos patrões. Ela chegou finalmente ao portão.
Da sua casa podia se observar a casa do barbeiro ao fundo da estrada em cinco minutos tinha que chegar a igreja antes de quatro e meia. Num minuto fintou os basaltos já entreabertas pelas cheias de setembro, em dois minutos espalhou toda a sua ternura pela rua afora, por três minutos curvou a estrada perigosamente provocante vestida numa calça jean extremamente apertada sem sufocar a perna e a cintura, por quatro minutos deu um, ola sem soltar o negro bâton morto na carne morta da sua boca, quando falava eram lábios, quando calava era perdição, antes de terminar quatro minutos o fogão se acendeu, as plantas voltaram a bailar, os trabalhadores se levantaram e o barbeiro encheu-se de contentamento por a maquina ter voltado a trabalhar.
Em cinco minutos deu quatro e meia ela entrou na igreja o sino tocou e os trabalhadores foram liberados de trabalho ela ao sentar a frente do senhor padre os passarinhos sentaram no sino da igreja e começou a celebração da missa.
Ele observou-a com a ponta da luneta, e pareceu resmungar.
— que pernas, que bunda, que beleza, que mulher. Depois de ter fixado os olhos pela multidão, observou a menina de salto alto pela última vez e disse a espiar descansadamente.
— Pelo sinal, santa cruz, livrai-nos dessa diaba.
Assim a missa começou e, tudo voltou ao normal na rua do barbeiro. E eu que estava de passagem a mandado de deus a terra para comprar cem escudos de tabaco na casa da dona joaninha quase dei um tombo ao abrir as minhas negras assas em direção ao Céu.
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