Capa do novo Livro de Mário Loff
I
Pelo corno mudaram-me, e por corno reergo-me. Quando abri a porta, ouvi a continuidade do barulho da nossa cama, é
muito normal a cama gemer quando são os donos do quarto a arrolar o corpo e
torna o sexo tão nobre para fortificar o amor nosso de cada dia. Aos passos
entrei pela casa adentro, alguém desejava o outro ou talvez a outra a deseja
ainda mais, lábios que se cruzam, que se comem, trituram. Entrei aos passos morosos,
caladas, e corpo que se penetram um no outro, nus, ela nova, inocente e que
grita a sua inculpabilidade retirada com força, com vontade e as lágrimas que
saem com primor nos olhinhos da moça em cima da minha cama de outro lado igual
a uma fera saída de uma ilha selvagem, o homem, o meu homem.
Satisfeito, mexia-lhe pelo sexo e, ela
que se aprende rapidamente, gradualmente deixa de chorar, gemer e passa a fazer o
que as mulheres fazem, sexo, amor, safadeza, ginástica rítmica em cima de um
pénis com dono e com esperma que finaliza o ato de se sentir momentaneamente
feliz e desejada, dilúvio do desejo. A pouco passos de mostrar-lhes que eu os
vi que estão a fazer o sexo na nossa cama, caí-me completamente ao chão por
fraqueza e medo, e eles completamente na nossa cama e, doía-lhe na vagina, doía-me no coração e na alma, se lhe doía a penetração do meu homem nela, a mim, doía-me porque já não era eu nas noites frias de Nice, calor de Lisboa, inverno de
Luxemburgo. Isso foram as minhas lembranças momentâneas que não queria perder
por ter feito, realizado e idealizada com aquele homem que adiante de mim,
afoga as suas aventuras para a minha desventura numa mulher nova, inocente, já
nada virgem.
O que mais doía era saber que sou a
mãe da nossa filha de seis messes. Eu a recém-parida e ela a recém-aberta e
dada ao mundo, eu aberta, mãe de duas crianças e com um mundo a cair no meu
quarto com desejo porque me sinto a vontade de estar a acabar com este fogo,
com dor, ódio e raiva sem poder de reagir ao ato que nos dilacerava, a mim e, a
mulher na minha cama, mulata, lábios grossos, bunda nova, arredondadas,
avantajadas, cabelos grandes e nada de falsidade nela, provavelmente linda e
nem precisa de Photoshop e nem retoques de maquilhagem ou beleza inventadas em
algum “shopping”. Ali reside a queda, insegurança e desgraça de que ela tem, o
caminho para começar, pronta para errar para se impor. Ergui-me na alma e apoiei-me na parede, sentada sob as minhas pernas e joelhos deitados e olhos fixos para a frente e procurei a forma de saber o que fazer a fórmula de sair por
cima ou sair dali completamente quebrada desprezada e desrespeitada. Na minha
cama e com o meu homem e com uma puta se fizeram um cenário para que uma imagem
de mim se apagasse e viesse uma outra imagem que nunca vi, senti e nem queria e
gostei.
Ergui-me desta vez, calma, de olhos
cheios de agua e coração entupido de deceção abri a tv e passava um desses programas que mostra as importantes figuras da arte, cultura e desporto em do
país, cantores, atores, atletas e assim por diante, será que são bons a fazer o
que eles andam a afazer no quarto? São tão constituídos fisicamente, muito
atrativo são eles, o suficiente para se perder neles, incluindo a cabeça. Enquanto sentada, o barulho no quarto parou e
começaram a falar.
Aproximei-me novamente para ouvir e
fazer o papel de ninguém, espionar alguém dentro da minha própria casa, reduz-me para qualquer coisa resumida, com medo, não devemos ter medo dentro da
nossa casa, nem dos segredos caídos em nós, usaremos só quatro paredes para
ampara-las, e serão só segredos se permanecerem por dentro deles e de nós.
Ainda estão despidos, menina com a
cabeça no peito do pai da minha filha, ele ainda com os pénis a decair e
lamento a caída, provavelmente é a última vez que vejo o seu falecimento, ela está a tocar suavemente nele, e mordendo suavemente os lábios como se nela o
mundo nunca acabasse e cada vez mais, quando lhe metia, mais ele sentia fome de
ser comida por mil pénis, é nova e tem energia para ser comida e penetrada pela
boca, vagina e pela vida inteira, por agora a minha vida fugia pelas pontas dos
meus dedos e vivia ali a part-time e a outra parte foi de férias sem data de
regresso e, quando ela voltar, terei de saber justificar a união das duas partes
e ter a minha vida de volta, talvez tenha eu exagerada, talvez por ela ser uma
novinha e eu já uma mulher de quarenta anos que também gostava de fazer aquilo
com o meu homem. Na sala a minha filha no carinho começou a chorar e fui
animá-la para parar de chorar e atrás de mim, chegou o meu companheiro e na cara
caiu-lhe o espanto e a mim pelo seu espanto caiu-me a calma, precisava de viver
também para experimentar-me e sentir a vida. Atrás do meu companheiro a menina
sai desfasada e chocada como se alguém o tivesse enganada. Corri para a bolsa
para apanhar alguma coisa que poderia causar algum estrago ficou complicado
achar porque a bolsa de uma mulher é uma arma contra nós com sintomas de
retoques da beleza que explode nas nossas caras e ficamos bonitas na rua e com
um certo toque na avenida e nas passadeiras.
- Não sabia, desculpe, ele tinha-me dito outra coisa. Ela desculpou-se com essas palavras.
— A culpa não é tua, estas no tempo de
experimentar o teu corpo, e nem tem a experiência de conhecer um homem e de se
estar com um homem, mas, não te desculpo não, tu não me fizeste nada, ele sim
fez-me uma cortadura gigante dentro de mim, tu és só uma inocente a procura de
pénis no início de querer abrir as suas pernas ao mundo, podes ter a certeza
que abriste bem, a partir de agora as de abrir muito só tente ter uma filha
linda com um homem que não ti, faça o que ele me acabou de fazer, cuidado que
qualquer coisa pode passar debaixo das pernas de uma mulher. O meu nome é a
Anita François e de você?
- Janilse Virginie.
— Muito bem Virginie, agora saia da
minha casa, por favor, porque preciso despedir de alguém que fiz plano de vida
e se sentiu demasiado fraco e guloso. Assim foi embora a Virginie e depois de
umas horas de discussão pacifica decidimos por termo a nossa relação e
dividimos os custos de criação da nossa filha e desde aí nunca mais me
apaixonei por alguém e a antiga Anita François morreu naquele dia e nasceu a
Crioulinha.
Estava a Crioulinha a fazer essas
lembranças depois daquela situação de seis anos atrás em Nice antes de mudar
para Paris. E observava no espelho a lamentar.
— Em que espelho ficou perdida a minha
alma. Falava para se mesma a Crioulinha depois de voltar de Cabo Verde mais uma
vez. Num ano viajava três vezes para Cabo Verde, sete vezes para Luxemburgo,
quatro vezes para Portugal, outras vezes para a Bélgica, Suíça, mas, a sua
área preferida são as cidades de França, onde estão os cabo-verdianos. Crioulinha,
uma toma o pequeno-almoço na cidade da praia, almoça em Lisboa e janta em Paris,
depois de uma boa noite ou dia intenso a conhecer coisas importantes de se
perceber a forma de ser livre la pelas bandas de mais uma cidade importante
para se estar num hotel de cinco estrelas e a noite uma pessoa diz assim.
— uhn, quem bom.
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