Halloween party ideas 2015

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Por Mário Loff


 O chão bem cedo foi varrido pelos primeiros ventos da manhã, tudo indicava que o humor do chefe não estava bom mesmo, depois do café da manha acompanhado da esposa e as filhas que chegaram da ilha do sal com aqueles costumes trazidos e copiados dos italianos. Garfo e faca nas mãos dos meninos, pratos de prata na mão da senhora esposa, o copo de plástico na mão do marido. A estante que há muito não tinha sido tocada para o uso e lavagem das louças presenteados no casamento que já dura mais de vinte anos, com a chegada dos meninos tudo foi esvaziada com as novas finezas da senhora esposa.

O marido que já começou a apressar, observou o pulso, e com frequência observa os novos costumes da esposa e dos filhos que nasceram no fundo da ilha Santiago, comeram cachupa feita a base de bosta de vaca, e fumo antigo na cara que lembrava as mulheres que eram mulatas e morreram escuras, devido  a tanto fumo para afastar a fome dos meninos, a noite nem a água tirava os sinais de carvão, o sinal da humildade fica quando é adquirida no silêncio da luta árdua e suores cheiram detalhes íntimos da vida. O patrão sempre dizia.

— Trabalho, trabalho meu filho, trabalho é muito bom.

Usava tais palavras para os meninos e a esposa ainda antes da ida dos santiaguenses a ilha do sal. Foi da primeira vez e, levou os meninos e a esposa, voltou de férias para a ilha e, nunca mais voltou, ficou pelo sal os filhos e senhora esposa que ganharam o sal na vida e nos costumes trazidos pelos brancos Marconi. Em cada manhã o homem se espanta com cada forma nova de vícios finos trazidos. Mais ainda, quando a senhora esposa dizia.

— Não se deve guardar o luxo e a chiqueza nos armários e nas estantes, devemos ser chiques para os vizinhos comentarem. Até resto de cigarro num cinzeiro e um resto chique, com um certo estilo, claro.

— Que humildade me trouxeram da ilha do sal.

— Quem fala de ti a bem ou a mal, é sinal que tens sal na vida, uns acham salgado e outros acham no ponto e ti, seguem, mas, sempre há outros que diabolizam, o que é bom também, na guerra e na bolha da confusão nasce coisa grande,

Ao ouvir isso, o marido saiu as pressas para não olhar os tais novos comportamentos, ideias novas da família assustava-lhe. É uma inovação ver uma badia negra de "fora" nascida na ilha de Santiago com manias de bâton vermelho na boca e queijo no pão, que não seja com peixe frito ou grito de café preto ou agu lopi, talheres de prata, cabelo já finos condicionados pela pente de ferro e condicionador cheiroso para tirar ocheiro de lenha, bosta de vaca, restia de esperança das chuvas, esses cabelos hoje finos limpam os crespos trazidos do continente e o proprio condicionador corta a dor daquela velha preta kabelu bedju e perna aberta para o tal branco. É bem bonito o pequeno-almoço no sótão em direção a ilha do fogo e, por perto, um marido que na infância implementava kolola até o final das azaguas, e pouco sabia de dar beijo na boca, senão isso, um ultraje a frente dos cristãos, beijar na rua e na praça, mesmo que ter uma esposa é licença para se ter uma concubina para se ser bem poderoso.  

Uma mulher de fundo Santiago quando aprende virar uma pagina, mesmo que fosse de um livro, assusta algumas personagens que abandonaram cabelo bedju e pé rataxadu a troco de algo que se acham chiques demais para ser só de Cabo Verde. Imagina uma badia preta bem bonita no poder sem imitação a Cleópatra

Tem momentos que um homem precisa de coragem para experimentar outras novas aventuras, coisas proibidas e de grandes valores.

— E o almoço? Perguntou a senhora e os meninos antes do marido entrar na viatura. Ele afastou-se um pouco a cara da viatura e fechou em ameaças, eles entraram novamente para dentro.

II

Chefe chegou de ímpeto, coisa que ele gosta de fazer, chegar no local de trabalho sempre pela porta do fundo sem ser percebido, mas, com as suas desconfianças dos últimos tempos, não que a ideia não fosse apanhar os funcionários a perder o precioso tempo no serviço, se fosse aquilo também nem ligava, produziam muito, mas, nunca deixou eles perceberem que não dava a mínima para a perda de tempo no trabalho, de certa forma já sabia (rendiam) o dobro da possível perda de tempo, então havia uma forma magica de os trabalhadores recuperarem o tempo, ele desconfiava e queria ver, sentir e curtir quando visse, a desconfiança o fazia entrar pelas portas do fundo sorrateiramente e magicamente silencioso, muitas vezes fez esta ação sem sucesso, entrava, dava ordens e em alguns momentos davam bom dia! Se algo não ficava nos conformes, chama os rapazes de caralho, sem dizer preto, ou preto do caralho. Talvez por estar na terra de preto e nas ilhas.

 

Teve momentos que no seu escritório imaginava que se chamasse um preto de caralho em Portugal seria uma coisa normal, mas na África teria de mandar uns caralhos sem ofender os pretos, somente o assunto mal resolvido. O caralho já somos todos. Provavelmente somos todos, brancos e pretos do caralho. Lembra da família e manda: fodas pa.

Ao tentar surpreender os trabalhadores, fê-lo com a ideia de os encontrar a usar a bendita poção magica e dá-los alguns conselhos acerca do uso da poção, assim ele chamava o material de inspiração dos trabalhadores.

Inicio de semana chegou-lhe a sorte, na segunda-feira, encontrou os seus sete funcionários sentados a tirarem uns fumos ou pasta de "charo" como dizem quando o fumo lhes enchia a cabeça e ficam a responder tudo de:

-iaa mamm. 

Ele que nunca ofereceu um sorriso voluntario às pessoas no trabalho a não ser uma certa exigência, mas também não tinham nada de queixar do homem, não abre muito com as pessoas, não apresenta a outra cara senão, de ser um bom chefe que foca no essencial de se ser um bom profissional no comprimento das suas ações de gestor de padaria.

Naquele dia, parou a frente deles, branco, cabelos puxados para trás, lábios vermelhos com algumas, pinta negra devido a tanto fumo de cigarro, é bem português de interior que quando pronúncia, letras A juntas da “ei” se fosse dito por ele, a amar, ele dizia a eimar.

Até para administrar uma padaria eles vêm de gravata? Algumas vezes os funcionários comentavam, e outras vezes lamentavam que também virou moda entre os cabo-verdianos chefes imitarem os portugueses. Mas, ele arranjou uma Badia de fundo de Santiago que lhe esta a tirar de sério, a mulher juntou a chiqueza com o estilo de badia de fora, juntos e uma chatice dos diabos, estas a ver aquelas brancas do seculo passado? É assim as badias quando junta as duas coisas. Comentavam os trabalhadores sobre o patrão.

— é que dá uma certa imagem de ser um grande profissional, homem sério, comprometido com o trabalho, um homem que cumpre e faz as coisas funcionarem, mas, quem faz as coisas com as mãos, somos nós. O outro funcionário arrematava por essas últimas palavras. E o líder dizia.

— Não confundam, nós fazemos o trabalho com as mãos e eles de gravata fazem com a cabeça.

O gerente reparou-os bem nos olhos, aproximou-se do funcionário mais antigo da fábrica de panificação e retirou o seu "charo" da boca e deu dois passos para trás, tudo em silêncio, e os funcionários a observarem o comportamento do patrão. O patrão deu cinco chupo de puro bula bom para o interior, primeiro pela boca, depois entrando na cabeça, fechou os olhos por dois minutos, gemeu e guindou a cabeça, levantou a mão para o céu e respirou o fumo pelo nariz, num modo devagarzinho e desligado do mundo como se tivesse numa contemplação fora da terra e a música que se tocava era a sétima sinfonia de Beethoven.

III

Que bom! Isso lembra-me muita coisa, disse ele, isso nos iguala em muita coisa e, nos faz esquecer também muitas merdas nosso de cada dia.

— O quê que se passa com o patrão? Perguntou um dos empregados. E o outro que lhe foi retirado a bula disse.

— Até que o patrão com o bula bom na boca dá aparência do Mota quando cantou "Mi ku fome mi é pior ki dJukin" "sasarikandu ven sasarikandu vai" em pleno Baía das Gatas.

— Não, ele parece outra coisa, parece tão pacifico, tão gente nossa da terra que só lhe falta ter pele pretinho para que a bula lhe combina na cor.

— Fumo da bula é cinzenta,

— Mas quem fuma somos nós, os homens, quando fumamos a bula ficamos tolos por momentos e tudo nos é fixe e somos cheios de delicadeza com o outro, o patrão não é de ser branco connosco, mas, também não é de se abrir tanto, parece querer trabalho e lucro, depois ir à sua terra continuar a ser português.

Enquanto eles confidenciavam sobre o estado de elevada doce de bula bom do patrão ele abriu os olhos o e a primeira coisa que fez foi sorrir, e logo o sorriso contagiou o resto do pessoal, e ele disse a tossir. Escondido o rapaz que trouxe a bula disse o outro em voz baixa.

— O riso não tem rasa e usa a cara para se manifestar, quando paramos de rir ficamos diferentes iguais em carne e osso. O riso tem contágio e os dentes a mostra, olha como os dentes do patrão são lindos e brancos, e os nossos são belos e brancos, o patrão um branco e nós uns pretos, usando a mesma bula e soltando os sorrisos. O rapaz virou a cara e respondeu.

— Bula bom, tem bom no nome por algum motivo.

— Pessoal, não fumem esta coisa, deixa-nos fixe e é bom, mas tem mais desvantagens do que vantagem. Retirou mais um fumo e pediu ao funcionário se pudesse ficar com o restante da bula, o que ele aceitou a fazer o sinal com a cabeça com alguma satisfação.

Os funcionários ficaram contentes com os efeitos de padjinha já que receberam algumas palavras e um rasgado sorriso do patrão, coisa que os motivaram a terminarem de fumar a benfeitora bula, mas continuaram a pensar sobre os efeitos do uso da padjinha.

O patrão naquele dia trabalhou com tanto sorriso de dente a dente, em quinze anos de serviço não fora registado muito daquele momento no trabalho, a não ser quando a venda ultrapassa as expectativas e a casa do presidente recomenda pães e ele leva pessoalmente lá na casa da república.

No dia seguinte, o patrão ficou espantado ao ler o relatório do dia anterior. É que foi o dia de maior produção em quinze anos de funcionamento. Pegou no telefone e ligou diretamente para o funcionário mais antigo e disse.

— por favor esqueçam daquilo que vos dissera, podem continuar a praticar aquilo com regularidade!

— Aquilo o quê patrão?

— Aquilo de consumo da bula! Continuou o patrão.

— Patrão, posso ir até o seu gabinete?

— Claro, venha.

O patrão pousou o telefone e com um ar de satisfação por descobrir o milagre da produtividade. Antes de se recompor alguém bateu na porta e ele ordenou que entrasse.

— Bom dia! Patrão, espero que esteja no seu melhor dia e estar tudo bem na paz de Deus.

— Olha, deixa Deus de lado, é que as vezes ao pensar sobre o homem, procuro fingir que sei e acredito. E quando finjo, sou alguém. Quando não finjo, já procuro fingir. Eu só quero autorizar-vos a estarem a vontade naquilo, a partir de hoje.

O funcionário ouviu com muita atenção e com alguma mágoa, respondeu ao patrão dizendo.

— Patrão, eu sei que ontem a empresa produziu muito, e ainda há de produzir, mas, não pense que foi o efeito da bula, porque nós já usávamos a bula muito antes de virmos trabalhar aqui, sabes o quê que nos motivou ontem? É que pela primeira vez falaste connosco, distribuiu simpatia, falou connosco além de dar ordens, nos deu conselhos, pela primeira vez sentimos que é um ser humano para além de gerente, é como nos, só isso.

O funcionário, saiu e bateu a porta deixando o patrão em absoluto estado de silêncio. Apanhou o telefone e telefonou a senhora do Font off e disse.

— Senhora Conceição, preciso que me providencie umas bulas urgentemente, agora sou eu é que preciso.

O patrão pousou o telefone e descansou na sua cadeira, lamentando.

— Como é bom o bula, justo neste dia que eu descobri o quanto fui um grande palerma neste quinze anos. Mas, talvez o bula bom não é lá tão bom. Só preciso ser bom sem bula bom.

 

 

 


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