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“TARRAFAL NUNCA MAIS… 58 ANOS DEPOIS”



Foi com o despertar da Segunda Guerra Mundial e com as suas consequências, que Salazar se sentiu obrigado a ir diminuindo de um modo geral a repressão no ex-Campo de Concentração do Tarrafal. Recorda-se que nessa altura, a conjuntura internacional, depois da segunda grande guerra, estava traçada e desenhada de seguinte forma: os americanos já estavam no Norte de África. Em Fevereiro de 1943 o Exército Vermelho já proclamava a vitória em Estalinegrado. Em Setembro os alemães foram expulsos pelos ingleses e americanos da África. Foi nessa altura que surgiram os primeiros rumores de que os reclusos do Tarrafal iriam ser postos em liberdade, acreditando-se seriamente que o Tarrafal iria ser encerrado.
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Em Janeiro de 1944, e como que justificando o boato, foram postos em liberdade os alemães Willy e Fred, o polaco, Israelvski, o italiano Bartolini, o ex-agente da PIDE António Augusto Pires, o médico Ferreira da Costa, e ainda Cândido de Oliveira, António Guerra, e outros mais. A partir dessa data, passou a ser autorizada por parte do Director, o capitão Filipe de barros, que os reclusos recebessem alguns jornais, tais como: o Século, o Diário de Notícias, o Primeiro de Janeiro, o Diário Popular, o Diário de Lisboa, etc. A partir de 1945, com a chegada do novo Director, David Prates da Silva, substituindo, Filipe de Barros, e com o Campo a queimar os últimos cartuchos como espaço de repressão, o quotidiano dos reclusos melhorou consideravelmente. O Rancho e a água apresentavam uma melhor qualidade, os reclusos tinham como actividades somente aqueles que eram mínimas para o funcionamento da prisão, Aliás, nessa altura já tinha desaparecido a Brigada Brava, a Frigideira. A 08 de Outubro de 1945, criou-se em Portugal, o Movimento da Unidade Democrática, que tinha como finalidade a luta contra o regime salazarista, o que para os reclusos do Tarrafal seria um sinal claro de que a luta contra o Fascismo se fazia de forma generalizada. Por um lado, a situação interna em Portugal, caracterizada por uma agitação social e a acção do Movimento de Unidade Democrática, e por outro lado, a vitória das democracias sobre o nazismo, foram momentos cruciais para que Salazar moderasse a repressão adoptando uma atitude mais ou menos consequente face aos compromissos assumidos perante as democracias ocidentais. Em Portugal, de Minho ao Algarve se falava do Tarrafal. Também a nível internacional havia uma voz solidária de países tais como a Inglaterra, o Brasil, a França, e outros países da América Latina que se manifestavam contra a existência dessa prisão.

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Como estratégia política utilizou Salazar a promessa da realização de eleições livres a exemplo do que se passava, por exemplo na Inglaterra, e pela primeira vez, através da Emissora Nacional, e pela voz de António Ferro, então secretário de informação de Salazar, se afirmou que em Portugal não existiam presos Políticos. Tal notícias, como é de prever, deixou os reclusos no Tarrafal completamente atónicos. As pressões sofridas sobre política salazarista foram tão grandes que levaram a que em Fevereiro de 1945 fossem libertos cerca de cinquenta reclusos. Em Outubro de 1945, foi decretado uma amnistia para outros cento e dez presos do Tarrafal. E a partir dessa altura, o Campo, passou a funcionar, somente com quarenta reclusos, que não tinham sido abrangidos pela Amnistia. Depois de duas décadas de tortura mental, o Campo de Concentração do Tarrafal fechou a suas portas, a 26 de Janeiro de 1954, e com a saída o último preso, de Francisco Miguel, este que foi transferido para a prisão de Caxias em 31 de Janeiro de 1954. Entretanto, só com o Decreto - Lei número 40:675, de 7 de Julho de 1956, foi encerrado legalmente.


Elaborado por JOSÉ SOARES
fonte: liberal

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