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O entrevistado de hoje se define como um insatisfeito, se é verdade ou não, vejamos. Ele estudou no Liceu Manuel Tavares, lugar onde se despertou para a escrita pela influência do seu professor. Mas não parou por aqui, foi tirar curso superior na cidade da Praia, esteve na cidade dos poetas Armênio Vieira e de Filinto Elisio, por dois anos, mas não se sentia completo, pois desafiou a si mesmo e rumou ao país de Maiakovski, Tchecov e de Putin para se formar em Direito, mais ainda, para ser um futuro Jurista de Norte de Santiago com a intenção de endireitar este mundo desajustado. Pergunta, se ele tem alma, estofo e bagagens, não se sabe, mas vamos ver e ler a sua alma e o que ele disse nesta entrevista que a Provacultura foi até a Rússia ter com o Nilton Makonen.
1 - Quem es tu?
Para não dizer abençoado, digo que sou um homem de muita sorte, por ter nascido no mais lindo país do mundo, numa cidade de contos, numa zona onde até animais são respeitados, e numa família maravilhosa.
2 - Porque não Mendi mas sim Nilton Mendes Makonnen?
Nilton Mendes pelo simples fato de ter muitos amigos (kolegas di skola) que não me conhecem por Mendi, mas sim por Nilton Mendes.
3 - E esse Makonnem? E um agouro ou um nome?
Makonnen vem do nome do ex imperador da Etiópia Haile Selassie, que antes de ser coroado como imperador da Etiópia em 1930 era designado por Tafari Makonnen.
4 - O que é que estas a fazer neste momento?
Neste momento corro atrás do meu sonho, de ser um jurista, aqui na terra dos russos.
5 - Qual é a diferença entre a Rússia e Cabo Verde?
As diferenças entre a Russia e Cabo Verde são muitas. Se fizessemos esta mesma pergunta a qualquer outro cabo verdiano, a resposta seria a seguinte: epa na Russia faz muito frio. Já para mim, a maior diferença entre esses países está no modo de vida. A simplicidade, morabeza, hospitalidade que se tem em Cabo Verde, por aqui é algo raro de ver. E o maior frio que um negro sofre por aqui é o do racismo. Rússia é frio por dentro e por fora, isso o torna ainda mais grande e fantástico.
6 - Porque é que escolheste estudar Direito?
Quando fui para o liceu, sempre tirava boas notas em matemática em estudos cientificos, quimica, até cheguei a dizer que eu queria ser um enginheiro, mas logo percebi, que aquilo não encaixava em mim. Cresci num local onde a maioria das pessoas são simples, por vezes analfabetos, e muitas vezes pobres. Essas pessoas muitas vezes sofrem inúmeras dificuldades, lhes são negados os seus direitos, os que já estão melhores posicionados na sociedade, aproveitam dessas pessoas, violam os seus direitos, e os coitados não podem se defender, por motivos vários.
Essas situações sempre me incomodaram, e ainda incomodam, por isso sonho um dia ter uma possibilidade de poder ajudar, defender essas pessoas que não têm possibilidade de se auto-defenderem. Por isso escolhi Direito e também porque sinto que Direito é a minha sina.
7 - O ensino russo e cabo-verdiano que relação e semelhança que têm, vantagens e desvantagens?
Antes de vir para Rússia, já tinha estudado 2 anos na Universidade Jean Piaget na Paraia. A maioria dos estudantes não levava os estudos á serio, apenas desejavam ter um diploma e a Universidade apenas persecutava o seu fim lucrativo. Então na altura em que fui selecionado como bolseiro do Estado para vir estudar aqui, pensava que aqui as coias teriam um outro parâmetro. Mas é quase a mesma coisa. A diferença é que aqui estudo numa universidade publica, os cursos estão estruturados de uma melhor forma, tenho melhores condições bibliográficas, os livros aqui são de facil acesso e a cultura e incentivo para pesquisas aqui são maiores.
8 - O que é que um estudante cabo-verdiano precisa saber de antemão para ir fazer um curso na Rússia?
Eu acho, que seria duma importância imperiosa, que os estudantes que pretendem vir aqui estudar, soubessem que aqui vão ter de conviver com o racismo, terão fortes problemas de inclusão social, para não dizer que não terão uma vida social, o clima, a cultura aqui são completamente diferentes e muitas vezes essas circunstâncias influênciam para negativa no aproveitamento escolar.
9 - Como está inserida a comunidade estudantil cabo-verdiana e em especial as de Tarrafal de Santiago?
Aqui na Russia, eu desempenho a função de representante dos estudantes cabo-verdianos, por isso tenho alguns dados em mão. A nossa comunidade, neste momento é composta por 36 estudantes bolseiros, mais alguns que estudam por conta propria, espalhados por toda a Russia. Normalmente os estudantes cabo-verdianos que estudam e que esturam aqui têm fama de estudiosos e inteligentes, pelo facto de rapidamente se adaptarem a lingua e a realidade local. Já tarrafalenses, desses 36 estudantes, actualmente somos 2 aqui. eu e a Florestina Tavares, filha de Colhe Bicho, que faz medicina geral numa outra cidade. Também os tarrafalenses não fogem a regra e não deixam os seus dotes em mãos alheias.
10 - Qual e a sua relação com o Putim?
Putim, como todos os homens, tem os seus mais e menos. Falando dos mais, eu o admiro pelo fato de ser um líder patriota, que dirige o seu país conforme a vontade do seu povo, que dirige o seu país conforme a vontade do seu povo, em detrimento da vontade das potências mundiais.
11 - Do tempo que tens fora de cabo verde lhe permitiu definir o que é a vida?
Uma das vantágens da emigração é exatamente essa. Uma pessoa que tem tudo, família, amigos, uma vida social normal, um belo país, deixa tudo isso, para vir viver num país, onde as pessoas o vêm na rua, apontam o dedo e riem, acho que isso já seja suficiente para saber o que é a vida. Nha Balila disse “Kasa d’arguem ka morada”, e Nha Nacia Gomi disse “si nhu xinti pa kuda mundu, nada ka dimas pa dor”. E eu digo, que um homem só pode viver na sua terra, caso contrário não vive, mas sim sobrevive na terra dos outros.
12 . A nível literário participaste na Primeira antologia dos poetas de Tarrafal de Santiago. O que é que achaste daquele projeto?
Ideias do genero são de louvar. Sinto-me muito orgulhoso de ter participado num projecto tão peculiar. Hoje em dia o mundo vive a economia do mercado, onde não há lugar pro sentimento, só é valorizado o que for suscetível de trazer lucros, por isso a poesia, sendo uma forma de manifestar sentimentos, vem perdendo espaço. E nesse contexto, surge a I Antologia dos poetas de Tarrafal, numa direção contrária da do mercado, a propugnar um espaço pela poesia. Para mim este projeto tem um valor incalculável.
13. Como se deu o seu encontro com a poesia?
Comecei a gostar da poesia quando eu estudava no 9 no ano. Na altura, o meu professor de português era o Sr. Jose Orlando Lopes Garcia. A forma como ele nos ensinava português despertou em mim um gosto pela língua, e consecutivamente pela poesia. Já no 10mo ano, esse gosto teve uma majoração, devido as aulas e inspirações do Sr. Clarindo dos Santos. Na altura eu escrevera muitos poemas, que por azar perderam.
14. Com que poeta é que tu se identificas a nível mundial e a nível de Cabo Verde?
Identificar, talvez não. Admiro muitos poetas, na maioria nacionais, como por exemplo, Mario Lucio, Amílcar Cabral, Clarindo dos Santos, Mario Loff, Paulo Varela, entre outros, mas não me vejo em nenhum deles.
Obrigado pela parte que me toca, mas ....
15. Como tens acompanhado o recrudescer da literatura e a poesia no Tarrafal.
A poesia e a literatura no Tarrafal têm ganhado uma grande dinâmica que deve servir de paradigma nacional. Eu, mesmo que separado por mares, terras e montanhas, acompanho esta erupção da poesia no nosso Tarrafal, espreitando pela janela, na expectativa de um dia voltar e também fazer parte desta gloriosa evolução.
16. Qual poesia que mais lhe marcou na antologia? Se não responderes é porque não gostaste de nada daquilo. Heheheheh.
PERDIDO de Clarindo dos Santos, RÓSTU PA SUL de Júlio Soares Tavares Silva...
Já vi que o meu não serviu para nada heheeheh .... brincadeira.
17. O que é que tem a dizer aos poetas Tarrafalenses?
Se os poetas Tarrafalenses me emprestassem os seus ouvidos por uns minutos, eu os diria em primeiro lugar, parabéns pela grande obra que foi a I Antologia dos poetas de Tarrafal, em seguida, talvez diria que conservem e pratiquem a união e o dinamismo e para terminar diria que o único documento, que identifica um homem, a onde quer que ele vá, é a sua cultura, por isso valorizemos e vivamos a nossa cultura.
18. Escreves constantemente, ou de vez em vez?
Normalmente eu escrevo todos os dias, só que na maioria das vez, escrevo acerca de questões jurídicas, mas sempre me vem à cabeça algo em forma de poesias, então paro para registrá-las antes que vão embora.
18- Livro preferido?
“Eclipse sur l'Afrique : fallait-il tuer Kadhafi ?” livro do gabonês Jean Ping e “Unidade e Luta” de Amílcar Cabral.
20- Qual autor que descobriu e que gostou, e qual autor que ainda não descobriu que gostarias de descobrir?
Se fizéssemos essa mesma pergunta a um outro amante da poesia, a resposta seria Fernando Pessoa, Camões, Gil Vicente, por ai a fora, mas eu com toda sinceridade digo, que os autores que eu lera e que mais gostei, foram os da I Antologia dos poetas de Tarrafal de Santiago, pelo fato de partilharmos a mesma cultura, a mesma realidade, isso fez com que os seus poemas me atravessássem a alma, algo que não acontece, quando leio poemas de autores estrangeiros.
Já em relação aos poetas que eu gostaria de descobrir, seriam os mesmos. Cada homem vive o seu tempo, e os dias de hoje serão historia amanha. Assim como Camões e Fernando Pessoa fizeram história, acredito que poetas como Clarindo dos Santos, Mario Loff também farão, por isso gostaria de descobri-los.
21- O que é a vida?
A vida é uma escola. Todos os dias aprendemos e quando achamos que já somos bons o suficiente, terremos de mudar de classe (fase) e aprender de novo.
22- Qual é a tua cor preferida?
A minha cor preferida é a que mais temos em Cabo Verde, o azul.
23- País preferido? Além de Cabo Verde
Vivo entre a Rússia e a França e nas voltas que faço entre esses 2 países, tive oportunidade de ver alguns outros países (da Europa) mas, não encontrei nada nesses países, que me faça gostar ou os preferir em relação a outros países. Gostaria de conhecer África do Sul, Austrália, talvez seriam os meus preferidos, depois de Cabo Verde.
24- Como querias ser lembrado?
Gostaria de ser lembrado como uma pessoa, que repudia todas as formas de opressão humana existentes no nosso mundo, uma pessoa que quer o bem e a felicidade de todos.
25 - Que pergunta gostarias de me fazer que eu não te fiz ainda?
Achas que Tarrafal já é, ou pode vir a ser mãe dos melhores poetas lusófonos?
26- Qual foi o maior mal que já fizeste?
Talvez meu maior erro, foi ter feito minha mulher chorar algumas vezes.
27- Quem mais mal fez ao mundo?
Apesar de já tiver existido escravatura antes (por ex. os hebreus foram escravizados no Egipto), acho que a maior atrocidade da história da humanidade, foi os 500 anos de colonização e destruição da África pelos europeus.
28- Pretende um dia voltar a viver em Cabo verde?
Não só pretendo voltar a viver em CV, mas também, planejo, sonho, desejo, rogo e espero que o Senhor me acuda.
29- Que mensagem deixaria para os que estão errando neste momento e qual mensagem deixaria para os que não erraram ainda.
Como todos dizem, o erro é uma característica humana. Para quem já errou, que tire lições positivas do erro e que não venha a cometer mesmo erro. Os que ainda não erraram, que sirvam da experiência dos mais velhos, de modo que possamos ter progresso, ou caso contrário, estaríamos num ciclo vicioso. Hoje o pai era, amanhã o filho, depois o neto...
30- O que gostaria de dizer que eu não te perguntei?
Gostaria que me perguntasses, porquê pretendo voltar a Cabo Verde, uma vez que na Europa poço ter tudo? Gostaria que dissessem aos nossos jovens, que um homem nunca terá uma vida completa, enquanto estiver longe da terra que o viu nascer. Por aqui, os emigrantes andam com a vida em suspensão, a espera do momento que chegar em Cabo Verde.

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