Halloween party ideas 2015

Publicidade

 



Como antes já tinha escrito há algum tempo, o Tarrafal tem aquele charme de cidade, antes vila, onde até as pedras sabem demais, mas são caluda, há demasiado tempo. Cada beco conhece um segredo, cada praça e banco bem identificado tem um palanque (in)visível e cada estrada sabe o que é ser prometida, adiada, esquecida, relembrada, e depois adormecida num despacho qualquer.

Estamos a viver tempos onde a política se faz como se faz o funaná talvez até umas sangazuzas em casamentos: com um passo à frente, dois para o lado e muitos tropeços que ninguém quer assumir. A diferença é que o funaná é honesto e sangazuza é uma espécie zanga. Já os discursos…

A verdade é simples: criámos um exército. Não um com botas e fuzis com vontade de disparar o fim da alegria, que esses, coitados, só marcham em desfiles, mas um batalhão de comentadores da rede, repetidores de verdades recicladas, clones políticos com microfone nos dedos e slogan nos dentes bem ensaiados e repetidos em algum comité central nos gabinetes municipais.

São os “copistas da verdade paralela”: gente que repete até acreditar. Mentiras? Só até à segunda-feira. Na terça já são dogmas.

Este exército repete que "eles" — a oposição — são os maus, e "nós" — os novíssimos salvadores de calça engomadae perfumados com cheiros vindos da novíssima loja da primark da capital, é que somos os bons. O velho enredo da telenovela do poder. Entretanto, as obras?


— A estádio de raiz e polidesportivos reabilitados já tem mais idas e voltas que o Tarrafalense num campeonato distrital ou campeonato de takada.

— A rua pedonal, no futuro terá o seu impacto esperado a Santa Engrácia dos nosso tempos , esperado há cinco anos? Está em obras há tanto tempo que já devia pedir bilhete de identidade.

E claro, enquanto se adiam aumentos salariais por “falta de verba”, há sempre verba para mais uma viaturazinha com ar condicionado. Duas, três… Sete mil contos, ainda se ouve a frase mágica: “Foi tudo dentro da legalidade.” Legalidade, neste contexto, é só o nome simpático que se dá àquilo que se faz porque pode, mesmo que não se deva.

Lembro, a título de crónica e não de ofensa, que o Presidente da Câmara Municipal, que tem dias de Sócrates e outros de coach motivacional, reapareceu recentemente para largar umas pérolas discursivas com mais raiva que razão. Está no vídeo. Circula. Ganha views. E é ali, naquele momento, que percebemos que a raiva também é um plano de comunicação.

Mas o mais poético, se me permitem usar essa palavra num texto sobre política local, é que ele próprio, no seu primeiro mandato, prometeu uma auditoria à Câmara. Palavra de honra! Prometeu com a convicção de quem jura que segunda-feira vai ao ginásio. Nunca mais se ouviu falar da tal auditoria. Talvez esteja guardada numa gaveta com as medalhas do tempo de juventude.

Enquanto isso, as sessões da Assembleia transformaram-se num misto de novela mexicana e “stand-up” com má dicção. Quem discorda é acusado de estar “contra o desenvolvimento” contra o sôr presidente. Como se pensar fosse traição. Como se questionar fosse crime. Como se o Tarrafal fosse um aquário e nós os peixes decorativos, bonitos, silenciosos e sempre a girar em círculos.

Sim, senhor Presidente: fui um dos que reclamou. Reclamo outra vez. E volto a lembrar, com o respeito que se deve a qualquer servidor público, que o discurso de “não há dinheiro” não combina com viaturas novas, salários gordos para uns e atrasos para outros. E sobretudo, não combina com arrogância. A arrogância é o perfume dos incompetentes. E não, isto não é despeito. É cidadania. O Tarrafal não precisa de muralhas ideológicas, mas de pontes. Pontes para as zonas esquecidas, para os jovens sem futuro, para os trabalhadores que já não acreditam em nada.

E olhe que voltarei ao assunto, com mais ironia se for preciso, com mais poesia se for justo. Porque amar uma terra não é bater palmas. É bater o pé. E fazer barulho quando ela está a ser maltratada. E fiz no passado e volto a fazer, é a minha maldição e faça questão que ela seja assim.

Postar um comentário

Tecnologia do Blogger.